Da alma pro mundo, com Nati Sáez

julho 12, 2017 1 Comments


Há alguns anos atrás, dois pra ser mais preciso, tive um anseio gigantesco pela arte, na qual eu não conseguia controlar somente apreciando a arte no geral, eu precisava fazer a arte, deixar da minha alma fluir os sentimentos de forma humana, por meio da Música. Me senti na necessidade de procurar pela cidade, pontos onde haviam aulas de instrumentos músicais. Encontrei então, o Projeto Guri. Por meio deste, fiz diversas amizades no meio artístico iniciante, alguns que tocavam por hobbie, outros pelo prazer, até mesmo quem queria tocar futuramente, como profissão, entre essas amizades, conheci Luna. Garota animada, divertida, engraçada e principalmente, talentosa.

Por meio de Luna, conheci então Nati. Foi como uma afeição a primeira vista, ela era como uma mãe pro nosso circulo de amigos, sempre a admirei pelo estilo que ela tinha, as tatuagens pelos braços, pouco tempo depois, soube que a mesma era pintora, procurei em diversas partes sobre o Ateliê no qual ela trabalha, apreciando lá várias de suas obras. Minha admiração sobre ela foi aumentando a cada momento, a cada clique, a cada obra diferente. Passei a observá-la com mais atenção. Os livros que lia, a forma na qual trocava as páginas, como escutava a filha cantar com grande amor.


Agora que já compartilhei um pouco da emoção de conhecer essas duas pessoas maravilhosas, deixo vocês conhecerem ela por meio dessa entrevista, sentem-se em uma posição confortável, agarrem a chícara de chá (ou café) e conheçam.


Primeiramente, fala um pouco sobre você, do seu trabalho e como você percebeu que era isso que você queria fazer.


Atualmente quando me perguntam qual é a minha profissão digo que sou artista plástica, mas foi um longo caminho até eu conseguir me autodenominar artista. Desenho desde pequena, e cursei desenho e pintura na Escola Panamericana de Arte em São Paulo onde nasci. Mas lá pelos meus dezenove anos desisti da pintura porque achava que não era criativa o suficiente para produzir arte. Sabia que tinha boa técnica, desenhava bem e conhecia muito bem o uso dos diversos materiais. Enfim, fiz faculdade de sociologia, filosofia, fui empresária, tradutora, mas aos 45 anos a arte voltou a me chamar. Comecei pintando e restaurando móveis, peças de mdf e madeira até que comecei a notar que cada pintura era exclusiva, inédita e que havia criatividade nelas. Ainda assim levou alguns anos até eu ter coragem de colocar meus desenhos numa tela. Em dezembro de 2015 fiz o primeiro quadro. Pesquisei muito, via internet, preocupada se minha pintura era inédita ou se era semelhante ao que já havia no mercado, com o eterno medo de não ser criativa. Eis que, numa noite de abril de 2016 recebo uma mensagem inbox no Facebook de uma curadora de artes dizendo que tinha gostado muito dos meus quadros – eu só tinha feito quatro até então – e perguntando se eu já tinha exposto em Paris. Um momento indescritível. Ela pediu que eu enviasse fotos dos quadro para ela, em dois dias depois recebo um comunicado que minhas obras foram selecionadas para uma exposição no Carrousel du Louvre, em Paris. A questão mais importante é que enquanto eu me questionava se era artista ou artesã, uma pessoa na França viu meu trabalho e finalmente comecei a achar que estava no caminho certo: sou artista plástica.



De onde vem a inspiração pra novas obras?

Minha inspiração vem de estudos e mais estudos. Como a minha pintura se baseia muito em arabescos, que vem da minha paixão por arquitetura islâmica, estou sempre pesquisando em livros e internet, coleciono recortes de revistas de arquitetura, moda, decoração. Cada vez que vou iniciar uma pintura revisito todas essas referências e vai se formando na minha cabeça a nova imagem.



Você sente que seu trabalho atinge seu público alvo da forma na qual você deseja?

Se meu trabalho atinge meu público alvo? O que eu quero é encantar o outro, que alguém veja e “sinta” a beleza. E isso vem ocorrendo constantemente, modéstia à parte. Mas antes disso a satisfação é minha, para mim, é olhar o trabalho pronto e dizer “é isso, amei”. Quero mostrar a pintura  e receber a energia do outro. Minha maior crítica é a minha curadora, é duro ouvir dela “esse não gostei”, mas entendo que ela é uma orientadora que vai me mostrando por onde ir, e lógico, não há como não considerar o mercado, pois vender é necessário e também sinal de aceitação do público.



Em sua obra "Agênero", qual foi sua inspiração e o que você desejou transpassar pro seu público?

A minha obra Agênero surgiu do interesse de querer retratar as aflições humanas, guerra e paz interna e externa do ser humano. Quis pintar a beleza de uma pessoa indiferentemente do sexo e minha questão era: “que diferença, se esta pessoa é um homem ou uma mulher, isso faz na sua vida?” Ou seja, deixo para o expectador a decisão se é “menino ou menina”, pra mim tanto faz, é uma pessoa linda.

Recentemente, você teve seu trabalho exposto no Louvre, foi chamada também por diversos outros diretores de exposições. Qual a sensação de ver que o seu trabalho tem recebido a devida atenção de diversas formas e diversas partes do mundo?

Quanto às exposições, depois da primeira no Louvre, houve uma série de convites, no Brasil e no exterior. Como tenho um contrato com a curadora na França, ela que me ajuda a selecionar o que é mais adequado para mim. Vale lembrar que exposição significa investimento: inscrição, envio de obras, material para produção, embalagem etc, e isso custa caro. Por isso tenho que selecionar de acordo com o que posso investir, e que dará boa visibilidade. Quanto mais você é conhecido e reconhecido o preço do seu trabalho sobe, e mais você pode investir. O ideal, no início, seria conseguir um patrocinador, mas isso é outra história.


Como você classifica, atualmente, as suas obras?

Comecei classificando minha obra como abstrata pelo simples fato de não ser figurativa. Fiquei com medo que fosse vista apenas como decorativa, o que no meio é visto com desdém. Por isso comecei a colocar a figura humana nelas e buscar um tema mais profundo. Mas aí a minha curadora me fez ver que ao retratar o sofrimento em minhas figuras eu estava deixando de lado a questão do encantamento que eu tanto prezava no início. Que a pessoa olhe e sinta um arrebatamento de bem estar, e diga “quero olhar isso todo dia”. A beleza pela beleza. Estou novamente no abstrato e cada vez mais me desafiando tecnicamente ao pintar à mão livre os mais diversos e complexos arabescos. 


Quando você decidiu que queria seguir carreira artística, você sofreu preconceito? Alguém já tentou te dissuadir?

Quando, lá na minha adolescência, pensei em seguir as artes meus pais viram com bons olhos, desde que fosse só como um passa-tempo. Meus pais eram empresários, e fãs de artes e antiguidades, mas artes plásticas não era uma profissão. Mas filosofia também não era. “Decepção geral pra família”. Hoje estou com 52 anos e nem ligo mais se acham que isso é coisa de hippie, de madame que não tem o que fazer etc. É vocação, é necessidade da alma. Minha filha quer fazer artes cênicas, a arte estava lá desde pequena, e pela minha experiência posso dizer que não adianta você querer se desviar do seu caminho por vergonha ou para tentar agradar a família, a vida será uma frustração.


Qual foi o momento mais marcante da sua vida artística até os dias atuais?

Minha carreira, apesar da minha idade, está só no começo. Neste pouco tempo o momento marcante foi o convite para a exposição no Carrousel du Louvre, porque foi o exato momento em que me senti reconhecida e que me reconheci finalmente como artista.


Sobre ser mãe e ser artista. Como é? Qual foi o momento mais interessante, mais marcante pra você, quanto a sua filha no meio artístico em si? Já houve alguma participação dela em alguma de suas obras?

Minha filha Luna, hoje com 16 anos, insiste que não tem talento para o desenho, o que eu não concordo, mas ela tem idéias incríveis e às vezes expressa com as tintas. Já fiz duas releituras de quadros que ela fez, ou seja, não trabalhamos juntas, mas há uma comunhão de idéias.

Como uma boa leitora e artista. Você tem lido algum livro ou apreciado ao trabalho de algum artista em especial no qual gostaria de indicar?

Há um livro que leio, e releio, e leio novamente que me ajudou muito no meu entendimento do que é ser um artista plástico: “Teorias da Arte Moderna”, Herschel.B. Chipp, Martins Fontes, São Paulo, 1999. É uma coletânea de textos e fragmentos que focalizam o envolvimento individual de um artista com um problema específico, ou tratam da ideologia ampla de um manifesto grupal na arte moderna.  
Quanto aos artistas que aprecio, a lista é muito grande desde os clássicos até os contemporâneos muitos me encantam. Não teria como destacar um preferido, mas as obras de Gustav Klimt andam povoando meu imaginário ultimamente.

E como encerramento, você teria algo a dizer pra uma pessoa que tem muito desejo de seguir a carreira artística, por meio da pintura, mas tem medo dos pais não aprovarem sua decisão ou medo próprio, daqueles bobos que colocamos em nossas mentes?


Para quem quer seguir a carreira em artes plásticas e tem medo dos pais não aprovarem a sua decisão, ou medo de si mesmo achando que não é capaz: não desista. Se você sente que é sua vocação, insista. Há dias que acordo de madrugada com a cabeça fervilhando de idéias, imagens, cores e não consigo dormir mais. Preciso levantar e ir ao ateliê colocar a inquietação pra fora. É uma necessidade. Se fico uma semana sem pintar entro em agonia. Ando com as mãos e braços sempre com manchas de tinta, roupas com respingos, e amo tudo isso. Economicamente não é fácil, mas dar aulas de arte, desenho e pintura para se manter também é muito bom, pois a cada progresso de um aluno você se realiza também. Boa sorte.

Gostaria de abrir aqui um parênteses para endeusar o trabalho de Nati, que não só consegue passar pela sua arte cada detalhe marcante, como também consegue passar seu conhecimento pra seus aprendizes, como pode ser observado logo abaixo.



Bem, pessoal. Foi um prazer imenso poder saber um pouco mais dessa pessoa maravilhosa que é a Nati, obrigado de verdade por ter participado aqui. Pra encerrar essa postagem, tenho como considerações finais a ideia de que todo o homem tem um anseio pela arte, mas cada um tem sua forma de suprimir esse desejo, seja com música, com telenovelas ou filmes.

Caso você queira seguir o maravilhoso trabalho de nossa anfitriã, pode seguí-la pelas redes sociais.


 

Obrigado e até breve!

Jho

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard. Google

Um comentário:

  1. Nati, poderosa. Sou sua fã! Continue firme em suas artes e conceitos, o mundo precisa de gente assim. Beijos

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